Fonte: CUB
Quarenta
e dois anos depois do estranho fenômeno que acordou e assustou São
Simão, a descoberta de uma pedra no cerradão, em torno da cidade, pode
ser a pista para desvendar um enigma ainda sem resposta.
O telefone toca. É de São Simão. Foi encontrada uma pedra de tamanho descomunal no meio do cerrado. Pode ser a pista, que se procura há exatos 42 anos, para explicar o susto que paralisou a cidade em 14 de agosto de 1967. Mas o que aconteceu de extraordinário naquela madrugada de segunda-feira?
Boa parte dos moradores da cidade nem era nascida ainda, e os mais velhos, que viveram aqueles instantes, não se lembram direito. Baseados em informações daquela época, porém, é possível supor que o dia anterior, domingo, 13 de agosto, correu como todo domingo de cidade pequena. À noite, o footing na pracinha. No clube Recreativo uns poucos jovens dançavam solto Marcianita na voz de Sérgio Murilo. Sucesso do fim da década de 50, a música ainda excitava os corpos juvenis:
No cine Oásis, professoras, fazendeiros, bancários, funcionários públicos e namoradinhos em geral veem no escurinho do cinema Audrey Hepburn e George Peppard em "Bonequinha de Luxo".
Um jovem estudante escreve uma redação que é publicada no semanário local "O Trabalho", atestando que realmente aquela é uma noite de estrelas. Mas, sobre o país, um véu negro já tapava todas elas : vivia-se o período da ditadura militar com o general Costa e Silva no comando do governo.
Preso no Rio, por ter criticado o general Castelo Branco após a sua morte, naqueles dias o jornalista carioca Hélio Fernandes era transferido da ilha de Fernando de Noronha aqui para Pirassununga. Meses depois, Che Guevara seria assassinado na Bolívia.
Distante de tudo, São Simão continuava a sua vidinha calma, sem violência, sem prisões, sem torturas. Mas naquela madrugada a população iria pular da cama, sobressaltada.
O GRANDE ESTRONDO
Eram exatamente 3h40 da madrugada quando funcionários da Companhia Mogiana - Nelson Pereira, Antônio Pereira da Silva e um tal de Marcílio - de plantão na pequena estação de Sucuri, escutaram a aproximação do trem cargueiro em direção a São Simão. O trem parou esguichando fumaça na estaçãozinha. A demora foi pouca, nem um minuto. Recebeu autorização para ir em frente e partiu.
E foi então que aconteceu: um grande estrondo, de tremer o chão, um clarão no céu que durou segundos e todo o escurão virou dia, enxergando-se com nitidez todas as arvores tortas e raquíticas do cerradão.
A população de São Simão assustada saiu à rua de pijama, de camisola. Muitos rezavam, entregavam a alma a Deus. Alguns pensaram que era o fim do mundo.
O advogado simonense Guido Louzada vivia em São Paulo nessa época. Logo soube da notícia e ligou imediatamente para o pai. Queria detalhes:
- Lembro-me até hoje, foi no dia em que Israel invadiu o Egito, na Guerra dos Sete Dias...
Detalhes ninguém tinha. Mas o falatório sobre o fenômeno correu mundo.
COBERTURA INTERNACIONAL
O mais famoso repórter da TV brasileira da época, Saulo Gomes, da então TV Tupi, se deslocou na terça-feira de manhã para São Simão. Hoje, morando em Ribeirão, com 81 anos, conta que a luminosidade atingiu um raio de 140 quilômetros a partir do cerrado de São Simão. O clarão teria sido visto em várias cidades: Ribeirão Preto, São Carlos, Aguaí, Porto Ferreira, Leme...
Saulo ouviu tratoristas, motoristas de ônibus, caminhões, carros que trafegavam naquele horário e todos informaram que os faróis foram ofuscados pelo clarão do céu e também que muitos motores pararam de funcionar naquela hora.
Na terça de manhã, não só o repórter Saulo Gomes estava no cerrado à procura do objeto misterioso que teria caído do céu, mas também profissionais da grande imprensa brasileira
e até da revista norte-americana Time-Life.
O trabalho dos repórteres não foi livre. A Aeronáutica cercou a área onde provavelmente teria caído o objeto, por coincidência numa fazenda do então major-médico, Rubens Barbirato,
que servia em Pirassununga.
Correu a informação de que os militares teriam recolhido destroços na propriedade do major, informação até hoje não confirmada. O falatório era de que tinham caído pedaços da nave
norte-americana, Gemini 8 ou a cápsula Agena 8, e que os gringos também estariam no local e não deixavam ninguém se aproximar.
- Tinha nego falando inglês pra chuchu! - lembra Luis Antônio Nogueira, hoje diretor do Museu de São Simão.
A presença de norte-americanos na área, porém, não foi confirmada.
MARCIANOS?
Outros faziam suposições mais ousadas: uma nave de marcianos - naquela época ainda não se falava em ETs - teria pousado na região. Os mais sensatos apostavam na possibilidade da queda de um grande meteorito no cerrado.
Mas nada de pedaços de foguete, nada de nave de marcianos, nada de meteorito. Todas as buscas dos repórteres foram em vão. Saulo Gomes e o então repórter da rádio 79 de Ribeirão, Antônio Carlos Morandini até sobrevoaram a área num avião teco-teco mas não viram nada, nenhum objeto, nenhuma cratera.
- Procuramos até cansar, mas infelizmente não descobrimos absolutamente nada.- lembra Morandini.
NA PRIMEIRA PÁGINA
Um dia após o acontecimento, o jornal A Cidade estampava na capa: "Meteoro teria caído em São Simão".E informava que "três funcionários da Estação do Cerrado observaram o fenômeno e disseram que uma luz muito forte antecedeu ao enorme estrondo que fez trepidar a terra".
O escrivão Wilson, da delegacia de polícia de São Simão relatou que "após o estrondo, houve um baque surdo que fez a terra tremer e depois um som de algo rolando em alguma descida".
O caso ficou na primeira página de A Cidade até o dia 19 de agosto de 1967. No dia 17, o jornal manchetou:
"BRASA VOADORA PODERÁ SER ENCONTRADA HOJE" e no dia 19: "BRASA VOADORA NÃO FOI ENCONTRADA."
NO JORNAL LOCAL
Só no sábado seguinte, o semanário "O Trabalho", de São Simão, deu o grande acontecimento manchetando uma pergunta: "Meteorito ou cápsula do Agena 8?" O texto dizia: " Na madrugada do dia 14 do corrente por volta das 3h45 nossa cidade foi tremendamente abalada por um poderoso estrondo que deixou toda a população sobressaltada devido ao violento impacto que jamais se registrou em nossa pacata cidade."
Dias depois do episódio, Luiz Carlos de Souza, na época com 15 anos de idade, era o vencedor de um concurso de redação na Escola Técnica de Comercio, com uma redação sobre o estranho fenômeno do dia 14 de agosto. Para o garoto, o acontecimento promoveu a cidade: "Quatorze de agosto, 3, 45 horas, madrugada calma, céu estrelado. Nosso Vale da Saúde que há tempos precisava de uma divulgação de suas belezas naturais recebeu esta oportunidade como uma bênção de Deus".
Hoje com 57 anos Luis Carlos, bancário aposentado, é o secretário da Saúde de São Simão. Ainda se lembra do "apavorante barulho que pareceu um enorme soquete fazendo tremer o chão da cidade."
TERROR OU DISCO-VOADOR
Dois dias depois do ocorrido em São Simão, na quarta feira, os repórteres Saulo Gomes, da Tupi, e Antônio Carlos Morandini decolavam mais uma vez de teco-teco do aeroporto Leite
Lopes. Dessa vez para Buritizal, a 170 quilômetros ao norte de São Simão.
De lá vinha também a notícia de que a população estava apavorada por causa de um objeto luminoso que havia explodido no céu. Pedras teriam atingido o telhado de uma farmácia e
um barracão de tirar leite.
Os moradores também falavam em fim de mundo, discos voadores, e até em ação de terroristas, fato comum na época.
Em Buritizal, Saulo Gomes recolheu no curral três pedras, que guarda até hoje e que ele acredita possam ser pedaços do meteorito que caiu sobre a região.
"EXTRAORDINAIRE!"
O sitiante Almir Cancilieri, que em 1967 teve o telhado do seu curral atingido por pedras lembra bem que lá, o estrondo e clarão no céu não aconteceu de madrugada como em São Simão, mas ao anoitecer, entre 18 e 19 h.
- Foi um baruião, um estrondo, teve gente na cidade que até passou mal- lembra.
Um engenheiro francês, William Ball, de Strassburg, de férias no Brasil a convite de um parente de Almir que traduziu para ele a historia, comentava de olhos arregalados:
- Extraordinaire! Extraordinaire!
Dona Edna, a mulher de Almir, lembra que "quando aquilo aconteceu" ainda eram namorados. Estavam na sala, diz ela. Estavam na rua, dia Almir.
Mas sobre a explosão, o depoimento é o mesmo:
- Foi um baruião, mais alto que os bumbo de Folia de Reis: tum, tum!
Aquilo crariô tudo dentro de casa!
Conta que uma tia, a Luísa, "morreu e vortô na hora do estrondo: ela ficô pretinha, mas aí foi vortando, vortando e recuperô"...
Hoje com 77 anos, a tia Luísa demora para lembrar daquele dia:
- Ah, parece que tô lembrando, lembro muito longe... foi tipo um relâmpo, que passou aquela faísca de fogo, um risco de fogo, um rabo preto e um trovão, aí eu caí e enrolei a língua...
O ACHADO CABE UM HOMEM NO BURACO QUE VAMOS ESTUDAR
Passados 42 anos dos acontecimentos em São Simão e Buritizal, o diretor do Museu de São Simão, Luís Antônio Nogueira telefona para o A Cidade para informar sobre um achado, segundo ele, espetacular.
Perto da estaçãozinha de Sucuri, área onde teria caído um objeto em 1967, foi encontrada uma grande e estranha pedra no meio de extensa plantação de eucalipto.
Segundo Nogueira, a pedra só poderia mesmo ter caído do céu. Seria então o grande meteorito que assustou e fez tremer São Simão e jogou lascas de pedras até em Buritizal?
Hoje, pouco resta do cerradão de São Simão, extensas plantações de eucalipto cobrem quase toda a área. Para chegar até o local contamos com a colaboração de dois guias que conhecem bem a área: os irmãos Paulo Renato Souto e Carlos Eduardo Souto.
A pedra está a 13 quilômetros da cidade, perto da estaçãozinha de Sucuri e realmente impressiona. Causa estranheza pelo seu tamanho e solidão em meio à região que é só de
areia. Com uma trena tiramos as suas medidas: tem 12 metros de circunferência, por 3 metros de altura. Se for realmente um meteorito será senão o maior, um dos maiores do mundo. O maior que caiu na terra até hoje, foi encontrado na Namíbia, na África, pesando
60 toneladas. E o maior encontrado no Brasil, foi em 1784 na Bahia, pesando cinco toneladas.
A pedra de São Simão apresenta várias saliências e buracos. Num deles, que parece uma porta, cabe um homem em pé. O repórter Saulo Gomes enfia a mão num dos buracos e
retira lá de dentro... pedaços de plástico.
- Isso é coisa dos peão que trabalham por aqui...
- diz o guia Paulo Renato, com ar de reprovação pelo desrespeito pela pedra.
O guia conta que aquela pedra transmite estranha energia e pede para o repórter colocar a mão sobre ela por alguns minutos.
- Sentiu alguma coisa diferente?
Infelizmente, não senti nada.
Recolhemos algumas lascas de pedras, que esfarelam na mão . Elas e as pedras recolhidas em Buritizal pelo repórter Saulo Gomes em 1967 serão enviadas para análise no departamento de Geologia, da Unesp de Rio Claro.
Os fragmentos são, até o momento, as únicas pistas para tentar desvendar o que aconteceu naquele agosto de 1967. Não resta dúvida que foi, como disse o francês de Strassburg, algo "extraordinaire".
Obs.: Esta matéria feita pelo jornalista e escritor João Garcia foi publicada no Jornal A Cidade de Ribeirão Preto no último domingo, dia 16 de agosto de 2009. O texto e as fotos foram cedidas gentilmente pelos autores.
O telefone toca. É de São Simão. Foi encontrada uma pedra de tamanho descomunal no meio do cerrado. Pode ser a pista, que se procura há exatos 42 anos, para explicar o susto que paralisou a cidade em 14 de agosto de 1967. Mas o que aconteceu de extraordinário naquela madrugada de segunda-feira?
Boa parte dos moradores da cidade nem era nascida ainda, e os mais velhos, que viveram aqueles instantes, não se lembram direito. Baseados em informações daquela época, porém, é possível supor que o dia anterior, domingo, 13 de agosto, correu como todo domingo de cidade pequena. À noite, o footing na pracinha. No clube Recreativo uns poucos jovens dançavam solto Marcianita na voz de Sérgio Murilo. Sucesso do fim da década de 50, a música ainda excitava os corpos juvenis:
"Eu quero um broto de Marte que seja sincero
Que não se pinte, nem fume
Nem saiba sequer o que é rock and roll.
A distância nos separa
Mas no ano 70 felizes seremos os dois..."
Que não se pinte, nem fume
Nem saiba sequer o que é rock and roll.
A distância nos separa
Mas no ano 70 felizes seremos os dois..."
No cine Oásis, professoras, fazendeiros, bancários, funcionários públicos e namoradinhos em geral veem no escurinho do cinema Audrey Hepburn e George Peppard em "Bonequinha de Luxo".
Um jovem estudante escreve uma redação que é publicada no semanário local "O Trabalho", atestando que realmente aquela é uma noite de estrelas. Mas, sobre o país, um véu negro já tapava todas elas : vivia-se o período da ditadura militar com o general Costa e Silva no comando do governo.
Preso no Rio, por ter criticado o general Castelo Branco após a sua morte, naqueles dias o jornalista carioca Hélio Fernandes era transferido da ilha de Fernando de Noronha aqui para Pirassununga. Meses depois, Che Guevara seria assassinado na Bolívia.
Distante de tudo, São Simão continuava a sua vidinha calma, sem violência, sem prisões, sem torturas. Mas naquela madrugada a população iria pular da cama, sobressaltada.
O GRANDE ESTRONDO
Eram exatamente 3h40 da madrugada quando funcionários da Companhia Mogiana - Nelson Pereira, Antônio Pereira da Silva e um tal de Marcílio - de plantão na pequena estação de Sucuri, escutaram a aproximação do trem cargueiro em direção a São Simão. O trem parou esguichando fumaça na estaçãozinha. A demora foi pouca, nem um minuto. Recebeu autorização para ir em frente e partiu.
E foi então que aconteceu: um grande estrondo, de tremer o chão, um clarão no céu que durou segundos e todo o escurão virou dia, enxergando-se com nitidez todas as arvores tortas e raquíticas do cerradão.
A população de São Simão assustada saiu à rua de pijama, de camisola. Muitos rezavam, entregavam a alma a Deus. Alguns pensaram que era o fim do mundo.
O advogado simonense Guido Louzada vivia em São Paulo nessa época. Logo soube da notícia e ligou imediatamente para o pai. Queria detalhes:
- Lembro-me até hoje, foi no dia em que Israel invadiu o Egito, na Guerra dos Sete Dias...
Detalhes ninguém tinha. Mas o falatório sobre o fenômeno correu mundo.
COBERTURA INTERNACIONAL
O mais famoso repórter da TV brasileira da época, Saulo Gomes, da então TV Tupi, se deslocou na terça-feira de manhã para São Simão. Hoje, morando em Ribeirão, com 81 anos, conta que a luminosidade atingiu um raio de 140 quilômetros a partir do cerrado de São Simão. O clarão teria sido visto em várias cidades: Ribeirão Preto, São Carlos, Aguaí, Porto Ferreira, Leme...
Saulo ouviu tratoristas, motoristas de ônibus, caminhões, carros que trafegavam naquele horário e todos informaram que os faróis foram ofuscados pelo clarão do céu e também que muitos motores pararam de funcionar naquela hora.
Na terça de manhã, não só o repórter Saulo Gomes estava no cerrado à procura do objeto misterioso que teria caído do céu, mas também profissionais da grande imprensa brasileira
e até da revista norte-americana Time-Life.
O trabalho dos repórteres não foi livre. A Aeronáutica cercou a área onde provavelmente teria caído o objeto, por coincidência numa fazenda do então major-médico, Rubens Barbirato,
que servia em Pirassununga.
Correu a informação de que os militares teriam recolhido destroços na propriedade do major, informação até hoje não confirmada. O falatório era de que tinham caído pedaços da nave
norte-americana, Gemini 8 ou a cápsula Agena 8, e que os gringos também estariam no local e não deixavam ninguém se aproximar.
- Tinha nego falando inglês pra chuchu! - lembra Luis Antônio Nogueira, hoje diretor do Museu de São Simão.
A presença de norte-americanos na área, porém, não foi confirmada.
MARCIANOS?
Outros faziam suposições mais ousadas: uma nave de marcianos - naquela época ainda não se falava em ETs - teria pousado na região. Os mais sensatos apostavam na possibilidade da queda de um grande meteorito no cerrado.
Mas nada de pedaços de foguete, nada de nave de marcianos, nada de meteorito. Todas as buscas dos repórteres foram em vão. Saulo Gomes e o então repórter da rádio 79 de Ribeirão, Antônio Carlos Morandini até sobrevoaram a área num avião teco-teco mas não viram nada, nenhum objeto, nenhuma cratera.
- Procuramos até cansar, mas infelizmente não descobrimos absolutamente nada.- lembra Morandini.
NA PRIMEIRA PÁGINA
Um dia após o acontecimento, o jornal A Cidade estampava na capa: "Meteoro teria caído em São Simão".E informava que "três funcionários da Estação do Cerrado observaram o fenômeno e disseram que uma luz muito forte antecedeu ao enorme estrondo que fez trepidar a terra".
O escrivão Wilson, da delegacia de polícia de São Simão relatou que "após o estrondo, houve um baque surdo que fez a terra tremer e depois um som de algo rolando em alguma descida".
O caso ficou na primeira página de A Cidade até o dia 19 de agosto de 1967. No dia 17, o jornal manchetou:
"BRASA VOADORA PODERÁ SER ENCONTRADA HOJE" e no dia 19: "BRASA VOADORA NÃO FOI ENCONTRADA."
NO JORNAL LOCAL
Só no sábado seguinte, o semanário "O Trabalho", de São Simão, deu o grande acontecimento manchetando uma pergunta: "Meteorito ou cápsula do Agena 8?" O texto dizia: " Na madrugada do dia 14 do corrente por volta das 3h45 nossa cidade foi tremendamente abalada por um poderoso estrondo que deixou toda a população sobressaltada devido ao violento impacto que jamais se registrou em nossa pacata cidade."
Dias depois do episódio, Luiz Carlos de Souza, na época com 15 anos de idade, era o vencedor de um concurso de redação na Escola Técnica de Comercio, com uma redação sobre o estranho fenômeno do dia 14 de agosto. Para o garoto, o acontecimento promoveu a cidade: "Quatorze de agosto, 3, 45 horas, madrugada calma, céu estrelado. Nosso Vale da Saúde que há tempos precisava de uma divulgação de suas belezas naturais recebeu esta oportunidade como uma bênção de Deus".
Hoje com 57 anos Luis Carlos, bancário aposentado, é o secretário da Saúde de São Simão. Ainda se lembra do "apavorante barulho que pareceu um enorme soquete fazendo tremer o chão da cidade."
TERROR OU DISCO-VOADOR
Dois dias depois do ocorrido em São Simão, na quarta feira, os repórteres Saulo Gomes, da Tupi, e Antônio Carlos Morandini decolavam mais uma vez de teco-teco do aeroporto Leite
Lopes. Dessa vez para Buritizal, a 170 quilômetros ao norte de São Simão.
De lá vinha também a notícia de que a população estava apavorada por causa de um objeto luminoso que havia explodido no céu. Pedras teriam atingido o telhado de uma farmácia e
um barracão de tirar leite.
Os moradores também falavam em fim de mundo, discos voadores, e até em ação de terroristas, fato comum na época.
Em Buritizal, Saulo Gomes recolheu no curral três pedras, que guarda até hoje e que ele acredita possam ser pedaços do meteorito que caiu sobre a região.
"EXTRAORDINAIRE!"
O sitiante Almir Cancilieri, que em 1967 teve o telhado do seu curral atingido por pedras lembra bem que lá, o estrondo e clarão no céu não aconteceu de madrugada como em São Simão, mas ao anoitecer, entre 18 e 19 h.
- Foi um baruião, um estrondo, teve gente na cidade que até passou mal- lembra.
Um engenheiro francês, William Ball, de Strassburg, de férias no Brasil a convite de um parente de Almir que traduziu para ele a historia, comentava de olhos arregalados:
- Extraordinaire! Extraordinaire!
Dona Edna, a mulher de Almir, lembra que "quando aquilo aconteceu" ainda eram namorados. Estavam na sala, diz ela. Estavam na rua, dia Almir.
Mas sobre a explosão, o depoimento é o mesmo:
- Foi um baruião, mais alto que os bumbo de Folia de Reis: tum, tum!
Aquilo crariô tudo dentro de casa!
Conta que uma tia, a Luísa, "morreu e vortô na hora do estrondo: ela ficô pretinha, mas aí foi vortando, vortando e recuperô"...
Hoje com 77 anos, a tia Luísa demora para lembrar daquele dia:
- Ah, parece que tô lembrando, lembro muito longe... foi tipo um relâmpo, que passou aquela faísca de fogo, um risco de fogo, um rabo preto e um trovão, aí eu caí e enrolei a língua...
O ACHADO CABE UM HOMEM NO BURACO QUE VAMOS ESTUDAR
Passados 42 anos dos acontecimentos em São Simão e Buritizal, o diretor do Museu de São Simão, Luís Antônio Nogueira telefona para o A Cidade para informar sobre um achado, segundo ele, espetacular.
Perto da estaçãozinha de Sucuri, área onde teria caído um objeto em 1967, foi encontrada uma grande e estranha pedra no meio de extensa plantação de eucalipto.
Segundo Nogueira, a pedra só poderia mesmo ter caído do céu. Seria então o grande meteorito que assustou e fez tremer São Simão e jogou lascas de pedras até em Buritizal?
Hoje, pouco resta do cerradão de São Simão, extensas plantações de eucalipto cobrem quase toda a área. Para chegar até o local contamos com a colaboração de dois guias que conhecem bem a área: os irmãos Paulo Renato Souto e Carlos Eduardo Souto.
A pedra está a 13 quilômetros da cidade, perto da estaçãozinha de Sucuri e realmente impressiona. Causa estranheza pelo seu tamanho e solidão em meio à região que é só de
areia. Com uma trena tiramos as suas medidas: tem 12 metros de circunferência, por 3 metros de altura. Se for realmente um meteorito será senão o maior, um dos maiores do mundo. O maior que caiu na terra até hoje, foi encontrado na Namíbia, na África, pesando
60 toneladas. E o maior encontrado no Brasil, foi em 1784 na Bahia, pesando cinco toneladas.
A pedra de São Simão apresenta várias saliências e buracos. Num deles, que parece uma porta, cabe um homem em pé. O repórter Saulo Gomes enfia a mão num dos buracos e
retira lá de dentro... pedaços de plástico.
- Isso é coisa dos peão que trabalham por aqui...
- diz o guia Paulo Renato, com ar de reprovação pelo desrespeito pela pedra.
O guia conta que aquela pedra transmite estranha energia e pede para o repórter colocar a mão sobre ela por alguns minutos.
- Sentiu alguma coisa diferente?
Infelizmente, não senti nada.
Recolhemos algumas lascas de pedras, que esfarelam na mão . Elas e as pedras recolhidas em Buritizal pelo repórter Saulo Gomes em 1967 serão enviadas para análise no departamento de Geologia, da Unesp de Rio Claro.
Os fragmentos são, até o momento, as únicas pistas para tentar desvendar o que aconteceu naquele agosto de 1967. Não resta dúvida que foi, como disse o francês de Strassburg, algo "extraordinaire".
Obs.: Esta matéria feita pelo jornalista e escritor João Garcia foi publicada no Jornal A Cidade de Ribeirão Preto no último domingo, dia 16 de agosto de 2009. O texto e as fotos foram cedidas gentilmente pelos autores.
1 Comentário
Em um mundo de descrédito, onde falar de crimes e miséria é a pauta diária, fatos da espécie relatada são interessantes, instigantes e misteriosos.
Rompem com a monotonia na qual transformou-se a imprensa, com certamente limites impostos pelos mandatários, para impedir que a poesia e as asas à imaginação tirem o povo da letargia de ignorância, futebóis, shows e outros.
Mas há aqueles que desvendam entre as brumas da ignorância o que pretendem fazer certos grupos que dominam a política, a economia e o mundo.
Lembrando Richard Bach, "... o Paraíso é uma questão pessoal ..."
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